Esse bem poderia ser o seu epitáfio. Contudo não o será nunca. As cobras nunca morrem. Mesmo quando são devassadas na sua mais eterna glória, ainda que desalojadas de toda a honra… é claro que eu não estou a falar das simples cobras do centeio. Perder-me-ei nesses ímpios de algodão, nessas quiméricas estufas um tanto quanto salgadas. Algures num chão, um sapo datém-se à espreita. Espera paciente, o bufo. Na hora certa cuspirá veneno e trará por terra todos os sonhadores. Clara sonhava. Dormia inquieta, profundamente por fora dos pés de cigana… havia uma mansão e muitos burros mascarados. Havia longos túneis e nascentes de água. Havia um pequeno jardim botânico e um alaúde que alumiava tudo com uma luz amarelenta, monárquica.
Em breve acordaria sobressaltada… no seu sonho, uma cobra azul acabara de comer o sapo. A borboletita catita levantar-se-ia e caminharia ao longo do corredor. Cabelos despenteados e busto indemne, mármoreo, seráfico.
Conhecia tão bem os caminhos que a levavam para fora dos pauis…
Nuno Monteiro
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