Soberba. Muito grande. E à volta só deserto, cheio de cactos. Uma estrada que trazia e levava, esburacada, quase sem asfalto. Um homem de lata e uma serpente. Vermelha e negra que dava pelo nome beltenegros; uma escrita organizadinha, com uivos nos cirros dos montes e carreiros ainda desabitados e portas por fechar e um cheiro impregnado em tudo. Flores, dentro da cidade, em pequenos canteiros. Um único hotel. Uma noite. Chega um criado que lhe abre a porta. A moça atira a perna para fora do carro e o sapato choca com o chão. Ele dá-lhe a mão e ajuda-a a levantar-se. A moça diz-lhe ao ouvido: leva-me até ao elevador. Ele assim faz. Passada a recepção, a mulher, à entrada do elevador despede-se vens buscar-me amanhã? Ele anui. Fecha-lhe a porta e fica olhando vendo-a subir. Já no quarto tira o corpete e comete a insensatez de olhar pela janela. Vê como a cidade é pequena e pára silenciada sobre um telhado escarlate. Esconde-se por detrás dos cortinados. Não quer que o deserto a olhe. Há uma enorme tempestade de areia e de pó que se revolve dentro dela. Clara apresta-se a adormecer. Clara não é a fria e desabitada serpente que o deserto viu chegar. Mas a cada instante que passa, a cada enxurrada que passa, se sente mais longe dela própria.
Nuno Monteiro
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