As nuvens viajavam lá pelo alto, longe, tão distantes dela. Marulhavam no mar imenso da eternidade. Putas! Nuvens que não envelhecem. Talvez essas nuvens sejam, tanto ou tão pouco, o que em mim nasceu errado… não sei mais. Não vejo nem aclaro mais que o céu imenso, azul, distante, frio. Em direcção ao vazio. Um calabouço. Um calabouço de velhice. Peço, então, em consequência, aos anjos e santos, que me destituam de razão. Ou que me instilem veneno, maldito, intravenoso. Acordarei para a noite, depois. Vender-me-ei ao diabólico satã. E de dia, enquanto a invernia adoça os amantes ou os cheira a mar, eu, no meu imenso e glorioso vazio, prescindirei de tudo, até de ti, pássaro, que te idolatras por detrás do sol.
(Clara, enquanto subia a avenida, deixando para trás o eco do mundo)
Nuno Monteiro
Nuno Monteiro
Sem comentários:
Enviar um comentário