quarta-feira, 14 de julho de 2010

O vento rangendo o castelo


Clara pisava a relva quando
(O vento, só podia ser o vento, arrastando as nuvens)
Morreu o jardineiro
E Clara, move os pés da relva
O quê?
Não sabes… essa relva que pisas… morreu! Morreu o jardineiro!
E Clara, sentiu dentro dela a pele que se dilacerava, voltou a pisar a relva, que tola, que a relva é para ser pisada… o vento que a invadia com imagens do jardineiro, de manhã, um chapéu de palha puída, passos curtos e vagarosos, um homem muito calado
Bom dia!
Bom dia menina.
E havia um travo à mistura com o cumprimento que Clara sabia ser da idade… a idade é uma puta! Não ando para aqui a arrastar-me, pois não, não ando pois não… Ora claro que não.
O vento uma vez mais, rangendo as portadas, Clara sente uma indisposição, é quando o vento lhe diz… a menina não estará grávida? E uma flor, muito vermelha, escarlate, pisa mesmo ao lado do pé!, Sorri-lhe.
Clara responde ao sorriso. E sente que deve ao jardineiro que trabalhou até à hora da morte…

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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