Os meninos autistas são menos meninos. Têm menos escolas e menos livros, menos bibliotecas e menos mundo. Alguns, os afortunados, têm mais mãe e mais pai. Mas a mãe e o pai, por serem mais mãe e mais pai, são menos cidadãos. Choram frequentes vezes. Pedem em silêncio, são vozes em surdina ao bater da noite… tantas e tantas vezes batem à porta das instituições que cautelosamente fogem de mansinho. Vai faltando dinheiro… E os pais percebem, vão percebendo a cada minuto, infinitamente, quão deserto terá que ser o deserto. Outros meninos, os menos afortunados, os mais diferentes dentre os diferentes, sozinhos, vão-se apagando por esses acidentes…
Não é do sol nem é do céu. É do Homem que por mais que seja adulto, por mais que seja velho e sábio, ainda convive mal com a diferença, sobretudo com a diferença ultrajante. O ultraje e a ofensa são os grande detonadores desta espécie de cegueira… O pior problema é que não há mundos diferentes, não há uma liberdade perfeita. Faltam mundos no nosso mundo. A diferença, esmorece, paulatinamente, dos seus lugares… Por isso a morte se instala, alarde, entre nós, pequeninos, pouco educados.
Não aprende é burro, não aprende é burro, não aprende é burro, ninguém o quer, ninguém me paga para te aturar… deus me livre!, ao pobrezito a caridade e a misericórdia… cai no esgoto a pedir…
Que o mundo conviva com as sombras ou viva na noite para se aperceber dos espectros que murmuram. É este o salto civilizacional que resta dar. Mas não é este o salto que se apregoa… e enquanto persistirmos no erro de conduta, haverá uma data de meninos que, mesmo que o não sejam, serão tratados como diferentes e deitados fora, como sacos vazios…
Nuno Monteiro
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