quarta-feira, 28 de julho de 2010

Por esse mar fora...

Por esse mar fora!

Diz lugares comuns, "habla" com ela própria…
Não é mais que ninguém embora, lá no fundo, julgue, pretensiosamente…
Fala demais, fala demais, fala demais, isso é ponto assente…
Mostra uma fala mansa, pausada, sustentada, (por deus!), sustentada onde…
Tem muito medo de ferir susceptibilidades, frequentemente confunde conceitos, quer irradiar o desporto enquanto elege o ballet como obra prima…
Lá no fundo, não tem ideologia…
Por vezes pergunto-me se será capaz de escrever…
Confidencia, e quando o faz, a meia voz…
Traz com ela um livreco, loiro, como ela… um desses com capa irisada e uma linguagem de latão…
Não dispensa as pernas altas e grandes e uma camada de estuque pela cara e peito… sapatos brancos…
Fala tanto, oh, por deus, quanto fala…
Se lhe perguntas pela filha diz logo que é uma jóia de moça, a minha filha sai a mim, e irradia os dentes, do colgate muito branco, estilo Tide…
Um cabelo loiro, exuberante, que lhe desce pelas costas, largas, abrangentes…
Vive ainda à sombra do antigo regime…
Olha-os com uns olhos piscos, como quem diz… por zeus!, não saberá que já não tem idade…
É avó, quase.
Bebe chá em esplanadas de hotéis…
Sai à rua ao fim da manhã, leva um cachorrito, faz compras em Paris, diz-se liberal…
Por esse mar fora, são tantas, tantas, tantas. Por esse mar fora.
Tem cerca de quarenta anos! e uma vida nenhuma anterior a ela...

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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