Ela, no seu imenso sorriso, age como se num porto, acolhe no seio, águas calmas, todos os barcos, as pequenas escunas há tanto perdidas, os magníficos iates irónicos, as naus e os galeões, os moderníssimos transatlânticos, os vapores do mississipi, os cargueiros da minha alma, todos os barcos, qualquer calado, qualquer equipagem, qualquer carga.
Ela, no seu imenso sorriso, é o umbigo do mar. Clara, nesse pacífico vagar, vivera empregada num bar de marinheiros. E durante todo esse tempo, quando olhava, não via homens, só lia livros. Não se ausentava sem que os lobos do mar, quedassem infindos, segurando Ouma, mareando às Maurícias. Sorriria, ao longo de muito tempo, ardendo sem arder, servindo sem servir. E passava, azálea, vistosa, ao de leve, as pontas dos dedos pelas lombadas dos livros. Encontraria uma barca que a levaria de viagem… Esparramada, riria ruidosamente. Meia noite. Bebericava a última cerveja. E o contorno dos lábios adormeceria, exalando um perfume quente, trópico, fruta. Adão, chegando, fecharia a porta e arrumar-lhe-ia o livro, entrançaria as pernas dele nas pernas dela e … assim se serve, do barco, o livro…
Esse teu porto, essa espécie de laguna cristalina é toda a tua virtude.
Nuno Monteiro
Sem comentários:
Enviar um comentário