segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pedro Páramo


“Pensava em ti, Susana. Nas colinas verdes. Quando lançavamos papagaios na época do vento. Ouvíamos lá em baixo o rumor vivo da aldeia enquanto estávamos por cima dele, no alto da colina, e, entretanto, fugia-nos o fio de cânhamo arrastado pelo vento. “Ajuda-me, Susana.” E umas mãos suaves apertavam as nossas mãos. “Solta mais fio.”
“O ar fazia-nos rir; juntava os nossos olhares enquanto o fio corria entre os dedos atrás do vento, até se partir com um leve estalido como se tivesse sido despedaçado pelas asas de algum pássaro. E lá do alto, o pássaro de papel caía às piruetas, arrastando a sua cauda de cordel, perdendo-se no verde da terra.
“Os teus lábios estavam molhados como se o orvalho os houvesse beijado.”

Juan Rulfo, Pedro Páramo, Obra reunida, Cavalo de Ferro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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