Quando a casa está sossegada e eu mergulho nas músicas ela vem e aninha-se ao meu lado. Chega titubeante, como quem apalpa bem o terreno, aterra em cima da mesa… Move-se dentro de um novelo de cautelas, não quer incomodar. Mas depressa se instala e quando o faz então todo o espaço onde eu estou súbito é dela. Quando a casa está sossegada ela também está sossegada. Não tem medo de errar nem tem medo de lá morar. Olha-me e eu de imediato sei que é como se me perguntasse o que estás a ouvir? E eu respondo com outra questão também queres ouvir?… é quando ela move as orelhas para trás e das duas uma, ou vai fechando os olhitos até pousar a cabeça e mergulhar num sono leve ou, entretém-se a lamber uma pata e a outra pata, depois uma perna e depois a outra perna. Quando o faz, de vez em quando olha para mim e eu respondo não, hoje não. Ainda outras vezes fica olhando o ar numa perfeita nostalgia. Ou será que devo dizer que numa perfeita saudade? É que, por alguma razão astrológica, ela só o faz quando eu bebo do meu passado. E então eu fico pensando afinal quem é o gato e quem é o homem?
Nuno Monteiro
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