segunda-feira, 5 de julho de 2010

Espadas


Diz-me Clara…

que poesia haverá nas palavras que colhes, com tanto cuidado, logo pela manhã, quando o mundo é sereno e todo o teu peso, vaza por entre as nuvens?
Nesses instantes que me aspergem, eu tenho comigo todos os olhos do mundo. Não vês o que isso significa… sou, então, a mulher mais triste do mundo. A mais baixa. A mais feia. A mais má. Toda a poesia me rouba de mim.
Contudo a pequena borboleta rasa as tuas pernas…
Sim! e quanto vento ela faz. Na verdade é a cor da borboleta que me faz olhar o mundo.
Talvez tenha sido ela quem, um dia, numa praia de chuva, te fez pintar os olhos! Sim, com mil raios, era inverno, e o badalo da maré e a vaza da torre de igreja apartaram-me a minha face da minha ira… serenei tremendo de frio… lembro tão bem… no areal em frente havia dois cavalheiros que se batiam
Com que arma?
Ora com que arma, espadas, com as quais escreviam no sangue um do outro…

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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