Movia-o o sonho de fazer terra boa da terra má. Era Pedro, pai de Clara. Não precisa só de força, faz muita falta o engenho e esse quem o dá é Susana. Um homem deve poder chegar a casa e pousar o produto do seu trabalho da tarde e
a presença dela inundando-o de lua, enquanto lá dentro, repuxa os lençóis brancos da cama.
A pequena aldeia estremecia ao luar, submergida em vozes e no sabor acre da laranja, Susana haveria de dizer, Pedro esse céu está hoje uma barafunda, anda deitar, aquece-me os pés e
ele passaria do alpendre para o quarto e em sussurro, a terra cheira a limão…
A vida decorre tão rapidamente e as chuvadas, os córregos de água, vão dar todos ao mesmo ponto vélico donde repuxam as raízes e adonde Susana, cumulada de branco, na aventura de mais uma colheita, pariria uma menina. Clara.
(a Juan Rulfo, finda a primeira leitura de Pedro Páramo)
Nuno Monteiro
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