segunda-feira, 27 de outubro de 2008

África minha - Nuno Monteiro


Berço, seios de minha mãe como cajus
Chegará o dia em que de novo te abraçarei
Em que de novo me embrenharei por ti e por mim
Choro, então procuro teus espaços amplos em tuas veredas de frescura;

E do guerrilheiro que foste verei nascer um belo menino
Que chegará dançando por cima das nuvens
Por detrás das estrelas e dar-me-á de comer
Meu berço, minhas saudades, todos os cheiros;

Calmo, sou eu, aqui em baixo, escutando esse choro
Feliz, gasto o meu tempo em doces
Alimento-o, serei o pai que o órfão precisa
Serei o professor, serei união;

E se fraco aqui, ao frio e à chuva, fortes são os meus guerrilheiros
Chegará o tempo em que se varrerão as nuvens e minha alma vogará
Até à minha machamba donde retirarei batata-doce, perdido no tempo,
Donde alimentarei toda a prole, toda a ideia, toda a vida;

E como os panfletos não sucumbirei ante a podridão
Nem a alienação dos que enquanto no berço foram invejosos
Cresceram de enfado, suados de enjoo
Como os panfletos, fortalecerei minha escrita e nada mais me interessará
Senão tua saúde, minha África imensa.

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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