
Sonho e poesia, baladas e cafés
Tão breves linhas etéreas
Do nada se tenta dizer tudo e eu só, contigo e com a chuva
Soluto, surpreso, eu canto, eu sou apenas eu
Um único gorgulho, inseguro, inglório, sorrateiro
Gotinha de chuva, bairro da Madragoa
Ao fundo o triste fado e eu dissolvido nesses langores
Perdido olhando o Tejo e hesitando soletrando ameaças
Ao vento e aos gárgulas que com asas de anjo
São estupro, fraude e infâmia
Um só canto, uma só arma, a minha pequenina praça
A minha cantiga e este texto que é também teu
Sai, amiga desconhecida, sai e avança caminhando
Seremos chuva que nos dissolvamos
Marcaremos as pedras os ferros e a bandeira
Corrijamos o rumo desta nossa tão triste barcaça.
Peço apenas mais um pouco de atenção e
teus olhos escuros me mirando
tua pele tisnada rindo contente ante o palhaço que jaz em mim
teus cabelos negros apanhados figura mãe de uma nova nação
Terás que ser tu, pequena lisboeta, alvoroçando bandeiras e atiçando faúlhas
Tu e a minha angústia numa luta incessante por todos os pobres
Todos os abandonos
Sempre imersos em insónia
Por isso poesia, ténues linhas contra toda uma armada
A figura da mãe, a figura estarrecida, a mulher ardina, tão cansada e assustada
Ao fim da estrada parando e sonhando, sonho e fogo, alma e revolução.
Nuno Monteiro
Sem comentários:
Enviar um comentário