sábado, 1 de novembro de 2008

O homem político - As farpas



O homem político – simples influente eleitoral, mero candidato a deputado, lisonjeia, mente, difama, atraiçoa. Na política portuguesa raros dão um passo que o não conquistem por algum destes vícios. Toda a gente o sabe. As eleições fazem-se ou pela compra da consciência a dinheiro, ou pela promessa, pela lisonja, pelo dolo, pela mentira. Não há integridade nem limpeza de carácter que resista à influência degradante e sordidíssima de uma campanha eleitoral. Em presença do eleitor, nas conversações, nos comícios e na imprensa, para desvanecer atritos, para abater dificuldades, para minar resistências, o candidato, de concessão em concessão, de recuamento em recuamento, de curva em curva em curva, de cortesia em cortesia, desdiz todas as suas opiniões, desmente todos os seus propósitos, falseia todas as suas convicções, renega todas as suas crenças.


In As Farpas, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão

Qualquer dos meus concidadãos consegue, facilmente, aperceber-se das semelhanças, 130 anos depois da publicação destas que são verdadeiras farpas. A sociedade é imensamente a mesma – retirada alguma inflação ou ruído de fundo.

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas