Olhai puro povo e benditos escarninhos, atentai no que vos diz o vosso timoneiro e escutai as verdades do sufragado que se desmancha em votos daninhos, botai para aqui os olhos cegos e as orelhas surdas e parai de esguedelhar porque, povo duro e competente, povo áspero e tão benfazejo, povo que lavas no rio, povo que tanto amamentas e que tanto apertas o cinto…
Assim começavam todos os editais, assim agia o excelentíssimo quando queria aprontar alguma e assim cauteloso como quem chama por eles, como quem se aninha num pranto imenso e como quem se oferece para ser coçado, como gato com cio que se aninha e ronrona, como assaz corajoso coração de mel que se enternece e colapsa de cada vez que as más notícias lhe chegam.
Bem sei das vossas dificuldades e bem sei que estais “bué” tesos. Bem sei que o reino é pobre e que as vossas necessidades são muitas. Pobres pois. Pobres vós. Eu sou rico e bem rico. Tenho um pote e um penico. E no penico caibo lá inteiro. Mas as más notícias chegam sempre e então serve este edital para contactar convosco…
Olhai…escorrem-lhe as lágrimas pela cara fora e é um poço de pranto enquanto se contorce flatulento…olhai os lírios do campo…era sempre assim a verve literária entrecurtada com o sentir campesino que o deixavam melancólico…olhai povo…por vezes deixava-se enganar e dali saíam as verdades…não vos posso enganar mais a vossa vida é um excerto de pouca saúde e eu nada sei que vos possa ajudar… e vai daí enternecesse e então anuncia:
Esta madrugada os meus esbirros encetaram a meu mando um acordo que julgo muito vos satisfará…a respeito da falta de comida desde que a mim não me falte mas avante…a respeito da falta de hidratos nada posso pois é o vosso solo só pedras e sois calões para as retirar do sítio; podereis andar de carro, podereis continuar nas vossas voltinhas dos tristes como condenados que sois e pelo menos disso não vos privarei. De resto é como desde há muito é sabido…pouca léria e muito courato, pouca sorte e carros eléctricos. Prometo-vos esses milagres para daqui a três anos e assim já podereis carpir sem petróleo. De resto transformai os carrinhos em vagões, em camionetas, em ceifeiras e em tractores. Para isso tendes génio. Dito desta maneira resta fazê-lo cumprir a contar da data de hoje a três anos. Até lá como puderdes já que a fome é madrasta.
Terreiro, 10 de Julho de 2008
E o povo de orelhas à escuta, o povo às dornas e aquele fadário porque o imperador falara. O povo feito povo de uma afectação aos mandos e desmandos, o povo irradiado por aquela luminária, o povo enquanto povo travando insígnias e na posição que sempre lhe competiu e que é a da obediência cega e completa. Como ele se mostrara amigo e compadecido! Como ele se mostrava afectado! Como era ele magnânimo! E quando se julgavam os tempos perdidos, quando lhes restava aparentemente mais nada! Carros eléctricos! Ora essa. Fora mais fácil a solução! Pudera!, com um quão ilustre timoneiro o que se não poderia fazer?.
Corto à navalhada o primeiro que se atrever a afirmar que este não é nosso amigo! Corto-o e sequer o enterro!
E os homens dali foram para as arrecadações e pegaram nas folhas de papel e nos lápis de carpintaria para tratarem dos planos de transformação dos carros ainda não chegados em camionetas em tractores em ceifeiras. Sempre apagava a fome dos Invernos sucessivos e a indigestão das pedras.
E do lado do imperador, do lado do timoneiro, de novo posto em silêncio e no repasto habitual, de pança alçada e arrotando maravilhosamente porque agora sentia-se convencido, agora estaria protegido. Quem tem medo do lobo mau ?, quem tem medo do lobo mau?
Nuno Monteiro
Assim começavam todos os editais, assim agia o excelentíssimo quando queria aprontar alguma e assim cauteloso como quem chama por eles, como quem se aninha num pranto imenso e como quem se oferece para ser coçado, como gato com cio que se aninha e ronrona, como assaz corajoso coração de mel que se enternece e colapsa de cada vez que as más notícias lhe chegam.
Bem sei das vossas dificuldades e bem sei que estais “bué” tesos. Bem sei que o reino é pobre e que as vossas necessidades são muitas. Pobres pois. Pobres vós. Eu sou rico e bem rico. Tenho um pote e um penico. E no penico caibo lá inteiro. Mas as más notícias chegam sempre e então serve este edital para contactar convosco…
Olhai…escorrem-lhe as lágrimas pela cara fora e é um poço de pranto enquanto se contorce flatulento…olhai os lírios do campo…era sempre assim a verve literária entrecurtada com o sentir campesino que o deixavam melancólico…olhai povo…por vezes deixava-se enganar e dali saíam as verdades…não vos posso enganar mais a vossa vida é um excerto de pouca saúde e eu nada sei que vos possa ajudar… e vai daí enternecesse e então anuncia:
Esta madrugada os meus esbirros encetaram a meu mando um acordo que julgo muito vos satisfará…a respeito da falta de comida desde que a mim não me falte mas avante…a respeito da falta de hidratos nada posso pois é o vosso solo só pedras e sois calões para as retirar do sítio; podereis andar de carro, podereis continuar nas vossas voltinhas dos tristes como condenados que sois e pelo menos disso não vos privarei. De resto é como desde há muito é sabido…pouca léria e muito courato, pouca sorte e carros eléctricos. Prometo-vos esses milagres para daqui a três anos e assim já podereis carpir sem petróleo. De resto transformai os carrinhos em vagões, em camionetas, em ceifeiras e em tractores. Para isso tendes génio. Dito desta maneira resta fazê-lo cumprir a contar da data de hoje a três anos. Até lá como puderdes já que a fome é madrasta.
Terreiro, 10 de Julho de 2008
E o povo de orelhas à escuta, o povo às dornas e aquele fadário porque o imperador falara. O povo feito povo de uma afectação aos mandos e desmandos, o povo irradiado por aquela luminária, o povo enquanto povo travando insígnias e na posição que sempre lhe competiu e que é a da obediência cega e completa. Como ele se mostrara amigo e compadecido! Como ele se mostrava afectado! Como era ele magnânimo! E quando se julgavam os tempos perdidos, quando lhes restava aparentemente mais nada! Carros eléctricos! Ora essa. Fora mais fácil a solução! Pudera!, com um quão ilustre timoneiro o que se não poderia fazer?.
Corto à navalhada o primeiro que se atrever a afirmar que este não é nosso amigo! Corto-o e sequer o enterro!
E os homens dali foram para as arrecadações e pegaram nas folhas de papel e nos lápis de carpintaria para tratarem dos planos de transformação dos carros ainda não chegados em camionetas em tractores em ceifeiras. Sempre apagava a fome dos Invernos sucessivos e a indigestão das pedras.
E do lado do imperador, do lado do timoneiro, de novo posto em silêncio e no repasto habitual, de pança alçada e arrotando maravilhosamente porque agora sentia-se convencido, agora estaria protegido. Quem tem medo do lobo mau ?, quem tem medo do lobo mau?
Nuno Monteiro
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