O5 de Outubro, dia da implantação e a hora é a hora da tarde, ainda na esteira das imagens das comemorações na praça do município. Quase cem anos após a queda da monarquia. Ainda com todos aqueles fatos na minha memória e com a noção tão quente quão inquietante de que todo o feriado é uma mentira e de que toda esta república de certa forma nunca foi, nunca se impôs, praça vazia, um punhado de soldados de chumbo e os engalanados do costume, os economistas, os habituados da política, as poltronas vermelhas e dois ou três fatos cinzentos gala impura das nossas queridíssimas forças armadas.
Sua excelência o presidente boca seca e modos hirtos à vontade soletrando lições de economia, planos de acção, o estado da educação, o estado cultural do país, a balança externa, a nossa desgraçada saúde e o centro de saúde de Figueira de Castelo Rodrigo sem médicos e pessoas dormindo à porta para assegurarem vez ou as histórias tão repetidas dos emigrantes escravizados nas romarias das vinhas do douro. Ou do nosso D’oiro. Doiro dos socalcos da mão do homem da classificação d’Unesco e de todo o suor das vindimas dos homens. Contraste tão nítido e notório com as poltronas e os engalanados naquela gravata vermelha naquela praça vazia do descrédito com que os discursos dos políticos são recebidos. O paradoxo de toda a pobreza encapotada.
Sua excelência o presidente goza dos directos e logo na esteira o primeiro ministro com pompa arrostando sobre a sintonia entre a acção do seu governo e as preocupações transparecidas do discurso – palavras, palavras vãs, lugares comuns, aparência, crise, desculpem mas eu recuso a acreditar.
Recuso acreditar porque conheço o estado real da educação desta ditosa e garbosa república, sei como funciona a justiça e já vi doentes caírem das macas nos corredores das urgências dos nossos hospitais. Sinto e preocupa-me a descrença que cresce e cresce e inunda todas as falanges da sociedade, ouço estupefacto bramir obras megalómanas e milionárias sem se acautelarem os direitos mais básicos dos nossos cidadãos. A não ser que não sejamos todos cidadãos de primeira. E aí sim. Aos alinhados e apadrinhados a república e aos restantes – tantos dois ou três presentes – pobre Magalhães que nem após séculos te deixam em paz, as noites ao relento na busca de uma consulta num centro de saúde onde trabalham quatro médicos. E são tantos e tantos os sintomas de enfermidade que me recuso a acreditar. Recuso a acreditar num país que se não importa com centenas de milhares de recém-licenciados e que perdeu o sentido do fundamental enquanto canta vitórias e vilórias de um sentido de esquizofrenia, enquanto alça a bandeira e brame no deserto por um oásis que todos sabem nunca chegará.
E então proponho que enquanto houver um cidadão desempregado se suspendam os feriados que sejam de exultação ou de consagração de uma classe política ostentatória. E que se comece pelo do cinco de Outubro. Porque a ostentação quando convive lado a lado com a miséria é o maior ultraje. Podem vestir e sentar seda e poltronas mas as nódoas coexistem, são maiores que vós, são a prova do vosso descrédito e a certeza de uma praça vazia. Vazia de gente, vazia de povo, vazia de sentido. O vosso discurso carece de significado até porque ninguém lhe deu guarida.
Sua excelência o presidente boca seca e modos hirtos à vontade soletrando lições de economia, planos de acção, o estado da educação, o estado cultural do país, a balança externa, a nossa desgraçada saúde e o centro de saúde de Figueira de Castelo Rodrigo sem médicos e pessoas dormindo à porta para assegurarem vez ou as histórias tão repetidas dos emigrantes escravizados nas romarias das vinhas do douro. Ou do nosso D’oiro. Doiro dos socalcos da mão do homem da classificação d’Unesco e de todo o suor das vindimas dos homens. Contraste tão nítido e notório com as poltronas e os engalanados naquela gravata vermelha naquela praça vazia do descrédito com que os discursos dos políticos são recebidos. O paradoxo de toda a pobreza encapotada.
Sua excelência o presidente goza dos directos e logo na esteira o primeiro ministro com pompa arrostando sobre a sintonia entre a acção do seu governo e as preocupações transparecidas do discurso – palavras, palavras vãs, lugares comuns, aparência, crise, desculpem mas eu recuso a acreditar.
Recuso acreditar porque conheço o estado real da educação desta ditosa e garbosa república, sei como funciona a justiça e já vi doentes caírem das macas nos corredores das urgências dos nossos hospitais. Sinto e preocupa-me a descrença que cresce e cresce e inunda todas as falanges da sociedade, ouço estupefacto bramir obras megalómanas e milionárias sem se acautelarem os direitos mais básicos dos nossos cidadãos. A não ser que não sejamos todos cidadãos de primeira. E aí sim. Aos alinhados e apadrinhados a república e aos restantes – tantos dois ou três presentes – pobre Magalhães que nem após séculos te deixam em paz, as noites ao relento na busca de uma consulta num centro de saúde onde trabalham quatro médicos. E são tantos e tantos os sintomas de enfermidade que me recuso a acreditar. Recuso a acreditar num país que se não importa com centenas de milhares de recém-licenciados e que perdeu o sentido do fundamental enquanto canta vitórias e vilórias de um sentido de esquizofrenia, enquanto alça a bandeira e brame no deserto por um oásis que todos sabem nunca chegará.
E então proponho que enquanto houver um cidadão desempregado se suspendam os feriados que sejam de exultação ou de consagração de uma classe política ostentatória. E que se comece pelo do cinco de Outubro. Porque a ostentação quando convive lado a lado com a miséria é o maior ultraje. Podem vestir e sentar seda e poltronas mas as nódoas coexistem, são maiores que vós, são a prova do vosso descrédito e a certeza de uma praça vazia. Vazia de gente, vazia de povo, vazia de sentido. O vosso discurso carece de significado até porque ninguém lhe deu guarida.
Nuno Monteiro
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