domingo, 5 de outubro de 2008

O Povo



O povo passeava as suas bandeiras rubras
e estive no meio deles, na pedra que tocavam,
na jornada fragorosa
e nas altas canções da luta.
Vi como iam de conquista em conquista.
Só a sua resistência era caminho
e, isolados, eram como estilhaços
duma estrela, sem boca e sem brilho.
Juntos, na unidade feita silêncio,
eram o fogo, o canto indestrutível,
a lenta passagem do homem sobre a terra,
feito profundidades e batalhas.
Eram a dignidade que combatia
o que fora espezinhado, e despertava,
como um sistema, a ordem das vidas
que batiam à porta e se sentavam
com as suas bandeiras na sala central.

In Canto Geral, Capítulo XI – As flores de Punitaqui, Pablo Neruda, tradução de Albano Martins, Campo das Letras.

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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