quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Vitral


Clara é capaz de despertar a flor
Quando, contigo ela se mostra num mar de azáleas
E, sem pudor, te pede…
Mel (logo o sol se esconde por detrás de um rubor de infância)
E tu, alienado
Sussurras
ao fim da montanha…

Pois Clara é também capaz de odiar a noite
Quando, contigo, ela se some num moinho de mentes
E, sem temor, abana a cauda
E grita!
Sorriso…
Ao largo um tempo verde, ternurento, move o capim do campo numa pista de dança…

Clara, como uma raposa
De orelhas muito moucas, observa o deserto
E ausculta além da moita
O Pequenino Escorpião
Que a beija e adormece, na canção que esbanja a cor de rosa…

Clara, enfrenta, enfim, sem temor, o caminho que é o dela
Sem conhecer o cardo, a vindima ou a levada
Clara é todo o mundo (o instante em que o cinza se torce de pequenino)
Sabe, doravante
Que das tuas abas de fogo se soldam céu e terra,
Certeza, porém, incendiária
Que nela é funesta, é essa
Linha de água (olhai além das janelas e vede o azul que polvilha o céu)
Onde a amizade se banha dum luar esganado, envidraçado, dissolvido em amarelo escarlate

Nuno Monteiro

imagem - Salvador Dali - muchacha en la ventana

2 comentários:

Helena disse...

Já tenho um mas me lembro do nome. Amanhã escrevo

Helena disse...

"Person at the window" de Salvador Dali

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas