quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Os pássaros do outro mar


Páginas em branco na lassa manhã de nevoeiro
Acordes de bizarras melodias
Lá longe os pássaros, lá longe suaves voando
Além do outro lado do mar as ilhas e as cores, a água pura e límpida

A minha água os meus sonhos os meus corais
E a minha música, um copo e um livro
As areias belíssimas como os acordes das bizarrias
Lá longe do outro lado do mar

Vai, some-te, infante santo
Consome-te
Afaga-te
Refastela-te
Ouve nas intermitências da minha vida

Ouve-me serei sempre eu
Abriga-me serei sempre eu
Os acordes serão sempre os meus

E as nuvens e as escadas todo eu deitado
Olhando o céu azul que se move tão rapidamente
Olhando o límpido céu e as cores do sol
Sentindo de fresco tropelias de menino

Serei sempre eu deste lado da barreira
Sairei sempre do mato ao lado dos enfraquecidos
Ouvirei sempre os ricos com cinismo nos lábios

Um homem só, na madrugada lenta e cinza
Um longo casaco e a luz fusca dos candeeiros
Acordes de pequenas musas
Nas páginas que não podem ficar em branco

Na minha água, eu, inteiro e gargalhando
Depois do sono saido do sofrimento
Abriga-me serei sempre eu

Corre, some-te fantasma negro
Alma espectro de tumba desbotada
Corre, apre, arre, boi, corno
Foge cão, some-te daninha.

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas