sexta-feira, 21 de novembro de 2008
o céu azul borrascoso
De que me lembro quando me lembro do céu…
Não sei se de nuvens das minhas amigas, benditas desgraças
Sei lá se do vento das minhas atoardas, de mim, tão novo
Ou então do chumbo dos outros do Pablo e do salitre
Sei que são tantos por toda a vida, imensos em todos os povos
Se de nuvens de mim e da minha avó, nas escadas da minha avó, olhando-as, como generais, como guerreiras e enquanto guarnições
Quão belo tempo, quão novo ainda, que pérfida caravela de esquálida figura
Se do ocaso do fim do homem, do ciclo interminável da revolução
Se do sol nascente do miúdo e dos dois oficiais e aí tremo e eriçam-se-me os pêlos
E se de noite, se de noite as estrelas, as fugazes, as tremeluzentes como as da minha vida e da do pequenino Jumentinho pelos montes fora.
Quão bela Orão, quão belo livro, e se agora escurecesse?
Se agora escurecesse porque sempre tive eu medo da noite?
Se agora escurecesse porque fico eu sempre de sobreaviso
Se houvesse certezas, se houvesse um amanhã…
E nós, que será de nós, que faremos nós, quantos seremos por fim
E nós, a ti cigano encantado, a vós todos os palhaços do circo, bem sei que me não ouvis. Bem sei que me não podeis ouvir.
Porque não quereis, porque não olhais o céu?
Que mania de tanto perguntar,
Que mania de tão tarde acordar.
Ou que mania de me não deixar derrotar!
Enquanto guarnição roubo-o e emudecido
Torno o olhar vago para as nuvens das escadas da minha avó
E como peixinho de rabo na boca olhai para mim a correr até encontrar de novo a minha vida.
Nuno Monteiro
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