quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que a tua mãe te fugiu

Dei-lhe cabo do canastro… E cirandou pela suja rua. Acompanhêmo-lo pois que deu um pontapé na bolita verde ali esquecida dalgum outro miúdo.
(A minha mãe…)
Seguia descendo a avenida! Pára um carro, presa fácil, do carro abrem as portas e, num instante, cá fora, o estupor que lhe batia. Edgar via. Correu a pegar numa pedra.
(A minha mãe?)
E depois uma nuvem, pousaria a pedra e choraria, encharcar-se-ia de afectos e de cigarros… a mulher jazia inanimada, corpo mole, grassado, negro em bocados redondos… Quando parou de chorar, adormeceria, vazio, uma vez mais fumando, cessando
(A minha mãe?)
A escura dor diria a tua mãe fugiu-te.

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas