sábado, 4 de setembro de 2010

Casa de campo - José Donoso

(…) Vais para o torreão?
- Vem comigo.
- Não.
- Porquê?
- Porque a tua voz treme.
- Parece-me que tenho motivos de sobra.
- Por causa daquilo a que as pessoas chamam esperança?
- Sem dúvida.
- Não creio que gostasse de sentir esperança, se isso me tornasse tão vulnerável como te torna a ti.
- Se uma pessoa não sente esperança, Arabela, fica fria e só durante toda a vida e quando chega a idade de se entregar a alguém ou a alguma causa, não consegue fazê-lo.
- Eu entreguei-me à causa de os afastar daqui e no entanto desconheço a emoção que te embarga.
- Pergunto-me se um rancor como o teu, móbil em si respeitável porque bem fundado, pode ser cimento da esperança.
Arabela não precisou de pensar para responder:
- Não, mas ao impulsioná-los, por rancor, a empreenderem esta excursão e a perderem-se nesta miragem, junto-me à tua esperança sem partilhar o teu projecto. (…)

Casa de Campo, José Donoso, Cavalo de Ferro, tradução de Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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