Aqui, na Vila, um forte cheiro a alga povoa o ar… chega até mim misturado com o das sardinhas… Escrevo, ou melhor, anoto breves trechos, esta vila é um entra e sai, ninguém é de ninguém aqui, não há vivalma e no entanto estas ruas falam tantas línguas… ainda alguns não se estabeleceram já outros adeus! Eu sempre achei que houvesse algo sinistro nas estâncias turísticas, agora sei que é esse eterno abandono, essa partida que é quase como a chegada do Outono… talvez seja isso mesmo este cheiro a sargassus, a premente ida e vinda da maré, o adeus…
Ao longo na praia há um molhe de pedras, um prodígio da erosão e lá mesmo ao fundo, quase sobre o horizonte, descubro Anita, que por vezes se espreguiça, outras se adivinha sentada, buscando uma sombra ou a água do mar
Cabelo castanho com trovas de loiro, ancas abundantes, largas, alta e de cintura graciosa, nos olhos o mesmo azul da cor do mar, uma pele clara e pés grandes, unhas pintadas de vermelho. Mãos que enterram na areia. Levanta e desce a areia e vai ao mar. Cessa e fica olhando o sereno lago, a luz tépida, demora-se na berma, ombros largos e seios justos. Pele Clara e face redonda. Só pode ser Adele. De súbito resolve-se e mergulha. Onde navega?
A água do mar é um alívio, um calmante brusco e sensato, eu, com três ou quatro braçadas, encontro a plataforma abissal e então, sobre o fundo, o Mero, meu amigo e eterno descanso…
Vou ao longo da praia e atinjo o molhe, toco Anita e esta de imediato me diz, aninha-te, olha comigo o pôr-do-sol. Amanhã já cá não estarei, já terei partido…
Nuno Monteiro
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