quinta-feira, 30 de julho de 2009

Malcolm Lowry - Lunar Caustic


(…) - Desconfio que o senhor é mal pago e tem uma escandalosa sobrecarga de trabalho. Bem sei que se passa o mesmo com as enfermeiras, a própria Srª T. incluída. Doze horas de enfiada, semana de sessenta e cinco horas por dezassete dólares, ou quinze, ou ainda menos, sem folgas e sempre com medo de serem despedidas. Sempre de olho alerta… E os internos sem nenhum seguro, sem salário, a transpirarem e a venderem sangue. E no entanto o senhor… o senhor vive tão conformado como os seus doentes, não só tudo aceita como insiste na técnica de tentar adaptá-los ao sistema… o mundo pode acabar mas não o sistema… o senhor vê isto como aqueles soldados feridos que os cirurgiões curam, dê por onde der, nem que eles próprios fiquem despedaçados, só para os mandarem de novo combater. Sim, despedaçados, como diria o Garry(…)
(…)- Valha-me Deus, senhor doutor! Esta gente aqui, os doentes, conforma-se, conforma-se! Não vê o horror que é, o horror que é um homem aceitar a sua própria decadência?(…)

Malcolm Lowry, Lunar Caustic – Colecção Gato Maltês, Assírio e Alvim, tradução de Aníbal Fernandes
Etching by Jorge Martínez Garcia

1 comentário:

Princesa Bé disse...

tens de ler...

"Blues de um Gato Velho"
de Óscar Málaga Gallegos

fazia-te bem...


bjo

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas