sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Chuva no tempo




Aninhou-se melhor, pondo os braços em volta do peito. Dóia-lhe, não era uma dor física, era uma dor interior, uma dor que lhe dilacerava o peito… E a alma… Respirou fundo, tentou dormir, mas não conseguiu. A imagem estava na sua cabeça. Estava a morrer por dentro. Por que é que a sua mãe a havia abandonado? Ela não percebia. Ouviu gritos. Encolheu-se ainda mais, tapou-se com a colcha e chorou. Chorou, não sabe quantas horas. Era de manhã, acordou, tentou levantar-se. Porém, o buraco presente no seu peito aumentara e doía-lhe cada vez mais. Tentou de novo. Conseguiu ouvir chuva. Vestiu-se. Desceu as escadas. A dor que a perseguia era cada vez maior. Gritou, porém, a dor pareceu não ligar. Aumentou. Saiu a correr e foi para o rio. Chovia muito. Estava encharcada mas por dentro ardia. O rio estava furioso, mas parecia gritar de dor. Como ela. Sentou-se. Começou a ficar fria. De repente sentiu um cobertor. Olhou e viu-a. Começou a gritar. Ela estava com medo. Decidiu sair a correr. Chegou a casa, atirou-se para a cama. Cobriu-se e deixou-se ficar ali, até a dor passar. Para sempre.

Maria Papoila
“é o meu pseudónimo e é com ele que eu assino os meus textos. Foi escolhido pela minha mãe”

Linda- Inês Bertelo, 13 anos

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas