terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Palavras da lenha

Soturno mirra elegia escarlate da cor maça
Verdes azeitonas como teus olhos dançantes
Vales férteis campos de trigo onde te enleias
Das minhas povoadas e eternas extravagantes aldeias a meia encosta

Das minhas eternas relíquias que como pequeninos deuses
Pululam a terra mediando entre o nascimento
Pululam como se a povoassem esquecendo de esquecer
Dos montes e das pedras das aldeias da meia encosta

Olha o velho que de manhã se alegra à vista do orvalho
Rende a guarda que de noite se acotovela para lhe dar de comer
Atira a matar se lhe atiçam os cães
Olha o engenho que manda antes e mais que a razão

Da cor da maçã que como verdes azeitonas vertem o sangue que o aquece e ruboriza
E lhe dão alvíssaras pelo quanto velho carreiro e das manhãs em que se levantou
Rachando a terra e exsudando a lenha
Aquecendo e vertendo lágrimas
Alvíssaras então à aldeia e ao homem ao velho e à guarida
Cabana, modo, sentido, alvo, ácido, terra, bolotas.

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas