terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A grande alegria


...
Não escrevo para ficar prisioneiro de outros livros,
Nem para esforçados aprendizes de lírios,
Mas para simples habitantes que pedem
A água e a lua, elementos da ordem imutável,
Escolas, pão e vinho, guitarras e ferramentas.

Escrevo para o povo, ainda que este não possa
Ler a minha poesia com seus olhos rurais.
Virá o momento em que uma linha, 0o vento
Que sacudiu a minha vida chegará aos seus
ouvidos,
E então o camponês levantará os olhos,
O mineiro sorrirá ao partir a pedra,
O fogueiro limpará a fronte,
O pescador verá melhor o brilho
Do peixe que, palpitando, lhe queimará as
Mãos,
O mecânico, limpo, todo ele lavado de fresco,
Cheirando ao sabão, olhará os meus poemas,
E eles dirão talvez: “Era um camarada.”

Isso me basta, é essa a coroa que pretendo.

Pablo Neruda in O Canto Geral do Chile

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas