quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Ruiva - Fialho de Almeida


“Dickens foi trabalhar aos doze anos para uma fábrica de cera; Genet foi acusado aos dez de roubo e enviado para uma Casa de Correcção. Fialho de Almeida, por sua vez, entrou aos catorze numa miserável botica ao largo do Mitelo, em Lisboa. Passava o dia a preparar venenos e à noite fechava-se num apertado vão de escada, nas traseiras da botica, onde dormia numa tábua rasa. Foi aí, nesse cubículo, à luz de uma vela, distraído de quando em quando por irritantes ratazanas, que Fialho fez a sua formação de escritor.”

António Cândido Franco, in Nota para o conto A Ruiva, Fialho de Almeida, Assírio e Alvim, 2005, colecção Beltenegros.

“-Nada de ajuntamentos aqui! Nada de ajuntamentos aqui! – E cada um foi para a sua banda, dando boas-noites. A triste espancada nem dava acordo de si. Corridas as primeiras curas das feridas, cada um foi dormir descansadamente e ninguém se lembrou de chamar o médico.
Sem o filho, sem uma pessoa que velasse por ela, a triste mulher revolvia-se nas enxergas, às escuras, em gemidos de dor e desvairamentos de febre.
E como de costume a manhã rompeu dali a cinco horas anunciando uma terça-feira de Inverno.

A Ruiva, Fialho de Almeida, edição Assírio e Alvim.

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas