domingo, 1 de fevereiro de 2009

Valsa egípcia


Do profundo azul nasceu a luz
Nasceste tu ébria mediterrânica … finura de tuas pernas todas azeitonas
E as terras dos teus solilóquios
Que tanto por ti falam como se te cuspissem egrégios correligionários
Ou da sorte da morte que te recobre os pés
Ou da alameda cigana de tão triste teia
A que te debrua e a que te insinua
Ninfa tão tágide de águas movediças
Como teus cachos de lúgubre mel
Adorno de tristezas
Suborno de pastoreio
Subsídios tacanhos de um altar em bronze

Há só uma sorte e a tua é de gato
Há todo um vento que te acabrunha o olhar
E um deus que te esqueceu
Em meio de frio e de vazio
Em meio de ti
Finura de ti
Figura de azeitona em lagar corroído
Olhos de fogo em um palanque de palhaço

Sem comentários:

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas