Tenho uma vaga lembrança
De uma história que se conta
Em certa velha lenda espanhola
Ou numa crónica antiga
Foi quando o bravo rei Sancho
Morreu às portas de Zamora
À qual o seu grande exército montava cerco
Acampado na planície.
Don Diego de Ordonez
Apresentou-se sozinho diante de todos
E gritou bem alto o seu desafio
Aos que defendiam as muralhas da cidade.
A todos os moradores de Zamora,
Aos nascidos e aos que estavam para nascer,
Desafiou como traidores
Em tom desdenhoso e altivo.
Insultou os vivos nas suas casas
E os mortos nas suas campas
As águas dos rios
E o vinho, o azeite e o pão.
Há um exército bem mais poderoso
Que nos assalta de todos os lados
Um exército infindo e faminto
Que luta em todas as portas da vida.
Os milhões que a pobreza oprime
Que vêm disputar o nosso pão e vinho
E nos acusam de traição
Nós, os que estamos vivos, e os mortos também.
E sempre que me sento à mesa do banquete
Onde a festa e as canções não têm fim
No meio da alegria e da música
Ouço os seus gritos terríveis,
Vejo os seus rostos tristes e descarnados
Fitando o salão iluminado
E as mãos exangues estendidas
Para apanhar as migalhas que caem.
Dentro de casa há luz e abundância,
No ar pairam bons odores,
Mas lá fora, reinam o frio e a noite,
A fome e o desespero.
E no acampamento faminto
Ao vento, ao frio e à chuva,
Cristo, o grande senhor dos exércitos
Jaz morto na planície.
Longfellow, in O povo do abismo, Jack London
De uma história que se conta
Em certa velha lenda espanhola
Ou numa crónica antiga
Foi quando o bravo rei Sancho
Morreu às portas de Zamora
À qual o seu grande exército montava cerco
Acampado na planície.
Don Diego de Ordonez
Apresentou-se sozinho diante de todos
E gritou bem alto o seu desafio
Aos que defendiam as muralhas da cidade.
A todos os moradores de Zamora,
Aos nascidos e aos que estavam para nascer,
Desafiou como traidores
Em tom desdenhoso e altivo.
Insultou os vivos nas suas casas
E os mortos nas suas campas
As águas dos rios
E o vinho, o azeite e o pão.
Há um exército bem mais poderoso
Que nos assalta de todos os lados
Um exército infindo e faminto
Que luta em todas as portas da vida.
Os milhões que a pobreza oprime
Que vêm disputar o nosso pão e vinho
E nos acusam de traição
Nós, os que estamos vivos, e os mortos também.
E sempre que me sento à mesa do banquete
Onde a festa e as canções não têm fim
No meio da alegria e da música
Ouço os seus gritos terríveis,
Vejo os seus rostos tristes e descarnados
Fitando o salão iluminado
E as mãos exangues estendidas
Para apanhar as migalhas que caem.
Dentro de casa há luz e abundância,
No ar pairam bons odores,
Mas lá fora, reinam o frio e a noite,
A fome e o desespero.
E no acampamento faminto
Ao vento, ao frio e à chuva,
Cristo, o grande senhor dos exércitos
Jaz morto na planície.
Longfellow, in O povo do abismo, Jack London
Sem comentários:
Enviar um comentário