sábado, 3 de janeiro de 2009

Bátegas de saudade


Chove… tão meigas e carinhosas como no jardim do paraíso
Bátegas de saudades que me embargam a voz
Eu só
Só eu no caminho da montanha
Que é minha
Continente donde fui arrancado

Que raízes tem um homem só?
Como se lamuria um desterrado?
Sinto que sou de parte nenhuma
Sinto que tenho toda a terra comigo
Quem sou?

Chove uma chuva meiga fraterna
Cantam o fado lá em baixo na Madragoa
Eu olho a chuva que resvala e se enovela
De costas para a montanha

Eu, só
E a montanha que é a minha guia
A minha caverna
A minha promessa
Vivo do lodo que eu próprio cozinho
E sinto a mais leve aragem
Sinto
Procuro
Em parte nenhuma
A minha terra lá longe panegírica.

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas