segunda-feira, 23 de novembro de 2009

0lho moído e lacrimejando...


O menino sabia que seria para sempre menino mas nem isso nem isso o fez parar…
Não queria viver sempre menino queria poder vestir as calças do pai
E sair ao vento às migalhas do monte – lágrimas deitando na terra para não passar o fogo…
Mas menino que era sempre menino não pode sair fazendo frente ao pai
EXERCITOGENERALCORONEUPAIDEFAMILIA
Porque pai é pai e o menino é pequenino faz birras esconde debaixo da mesa
Menino chora mundos e embirra muito…
Vê o mundo muito grande e não sabe se erra, não sabe se peca
Pecar não peca mas pode chegar um urso e cheirar a melaço
URSOGRANDECOMFOMENAVENTA
E o menino se perderia e não saberia sequer virar para norte
Não saberia arar um campo nem como curar uma tosse

Menino que estava quase deixando de ser menino
Pequenino palhacinho que despoletava o riso nos olhos dos outros
RISORISORISORISORISORISORISORISORISORISORISO - SÓRISO
Pai não queria não
Pai se afrontaria e a mãe
A mãe diria sempre o que seu pai mandaria

Assim seria sempre naquela casa de mato – pai como pai, mãe não sendo e menino esperando vez. Menino espeitando janelas atirando morros e puxando seus pés à frente… desboletando terras e atiçando urros… poderia ser que urso dele não viesse atrás – ou que desse de comer a mais dez. ele só! Ele grande. ele tão pequenininho…

Trazia seus olhos moídos de ver tanto mundo que não via ainda. E magro! Ui como ele era magro...

Nuno Monteiro

1 comentário:

Anónimo disse...

É decepcionante vir cá todos os dias e nunca encontrar nada de novo para ler. Porquê? Qu'est ce qu'il est arrivé? Um abraço, Hélder

“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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