sábado, 9 de maio de 2009

Herberto Helder


Toda a juventude é vingativa.
Deita-se, adormece, sonha alto as coisas da loucura.
Um dia acorda com toda a ciência, e canta
o mês antigo dos mitos, ou a cor que sobe
pelos frutos,
ou a lenta iluminação da morte como espírito
nas paisagens de uma inspiração.
A mulher pega nessa pedra tão jovem,
e atira-a para o espaço.
Sou amado. - E é uma pedra celeste.


Há gente assim, tão pura. Recolhe-se com a candeia
de uma pessoa. Pensa, esgota-se, nutre-se
desse quente silêncio.
Há gente que se apossa de uma loucura, e morre, e vive.
Depois levanta-se com os olhos imensos
e incendeia as casas, grita abertamente as giestas,
aniquila o mundo com o seu silêncio apaixonado.
Amam-me, multiplicam-me.
Só assim eu sou eterno.

Herberto Helder [1930-....]. "Poesia Toda". Assírio & Alvim.

Fonte: http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://breathingtime.blogs.sapo.pt/arquivo/marilia15.jpg&imgrefurl=http://breathingtime.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_07.html&usg=__NtZ2yF9LOzsK7p_yD8gqfFKLuMk=&h=319&w=480&sz=16&hl=pt-PT&start=13&um=1&tbnid=4RLHyWJpYY4kPM:&tbnh=86&tbnw=129&prev=/images%3Fq%3Dass%25C3%25ADrio%2Be%2Balvim%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DN%26um%3D1

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas