domingo, 16 de agosto de 2009


(...) A presença do avô Leonardo continuava a sentir-se mesmo depois de morto, como a de todas as pessoas que transportam em si uma força oculta. A sua personalidade muito vincada ficara a imperar, mesmo naqueles que nem sequer o tinham conhecido. Lá estava a sua nobre fisionomia, a testa ampla, a grande barba negra e, no olhar, uma serenidade transcendente. Penetrava-nos uma súbita calma ao encarar, casualmente, os olhos do retrato. Aqueles olhos diziam que havia, mesmo sobre a Terra, um lugar de repouso. Onde? Como é que o avô Leonardo lá tinha chegado? Que caminhos percorrera?
O avô Leonardo amava os bichos, as crianças e os homens... Acima de tudo, talvez a Terra..., talvez Deus. Confundia as duas coisas. (...)

Graça Pina de Morais, A origem. Edição Antígona

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António Lobo Antunes

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