quinta-feira, 16 de abril de 2009

Os mortos - eu os vi - na primavera


Os mortos - eu os vi - na primavera.
Ressurgiam dos corpos. Eu os vi.
A primavera começava neles
e terminava onde a alma estava.

Os mortos - eu os vi - iam descalços
na primavera, iam libertados.
Nada tolhia, nada separava
os pés das coisas vivas.

Os mortos - eu os vi-
não tinham rosto nem nome.
Eram muitos.
Num só se acrescentavam.
Eram muitos e vivos.

Perguntei-lhes por onde a primavera se alongava.
Os mortos - eu os vi - na primavera.
O sol dobrava neles os seus frutos.
O sol entrava neles. Eram larvas.

Carlos Nejar

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas