domingo, 5 de dezembro de 2010

N'zid

O sol escoava-se inteirinho entre o tempo assim assim, parado. A cidade era amarela e tu vestias uma saia verde e vinhas descalça, sorrias, trazias rímel pelos olhos e dir-se-ia que para trás encosta abaixo soltava-se de ti um rubro sonho. Vinhas para próximo de mim e eu, enquanto, ouvia um dedilhar longínquo de guitarra e sentia toda a terra dentro de mim, piscava os olhos e os meros compreendiam-me, a cordilheira que para sempre lá estará sorria enquanto os folhos da tua saia verde faziam floc floc floc. Tocavas ao de leve no chão com os teus pés graciosos. Primeiros? Eu esticava a mão e degustava um vinho tinto inebriante. Quente, do vulcão, ao fundo o dedilhar constante dum choro e tu movias para perto de mim e eu ficava olhando o teu sorriso imperturbáve, era engraçado, por dentro de mim a terra inteira ufanava e sentia-se o marulhar calmo e manso do mediterrâneo. Quando te conseguisse olhar por detrás do verde dos olhos renasceria e então seria uma noite perpétua que me não entristeceria. Nunca! porque por detrás dos teus olhos verdes e depois do floc floc da saia tu pararias o tempo e eu renasceria. E seria de sol e de areia e de inteira argúcia. Tal como tu, mulher da cidade amarela…

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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