Não há dar sem receber e recebe-se pelo próprio facto de dar; são a noite e o dia juntos numa jornada: se assim não fosse não haveria dar nem receber verdadeiros, mas só mero simulacro. E justamente quando as nossas forças decaem e o fazer-se se torna menos possível – quer dizer, quando o para quê viver quase não tem resposta prática – resplandesce mais a transcedência do para quem viver: para aqueles para quem somos desejados, embora vencidos e caducos, porque, mesmo assim, somos seus indispensáveis colaboradores no seu fazer-se, no seu próprio viver para nós. Ter aqueles que nos querem, e ainda mais no nosso desfalecimento e ocaso, é o culminar de quem somos; é a segurança, até ao fim, de fazermo-nos, recebendo, tal como nos fizemos dando.
Monte Sinai, José Luis Sampedro, Tradução de Carlos da Veiga Ferreira, Teorema, Gabinete de Curiosidades
Monte Sinai, José Luis Sampedro, Tradução de Carlos da Veiga Ferreira, Teorema, Gabinete de Curiosidades
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