O grande e majestoso deus, com as suas mãos de camélia, veio ao chão grande buscar um pouco de barro e amassando-o, tendo-se entretido mais que a conta, deve ter fartado pois atirou-o borda fora…
À data, o grande deus viajava de barco e havia uma quantidade enorme de pequeninas gentes que o remavam!
O bocadito de barro, intrépido e volteante, acabou de ganhar forma pelos ares e quando caiu, aterrou nas areias de uma praia lindíssima. Dois pés de mulher, o grande deus fizera, quase sem querer e o vento depois moldara, dois belíssimos pés de mulher. Ainda não havia a mulher, ainda não havia a face, ainda não havia o colo, as pernas e muito menos os cabelos ou os olhos. Mas já lá salteavam, praia fora, os pés, o esquerdo e o direito, frondosos, saltitando por entre a preia mar, evitando os recifes.
E durante muito tempo, o deus, tendo-se enfastiado, não quis mais moldar e quase abandonaria a arte não fosse um ou dois traços de teimosia. E durante todo esse tempo os pés zombariam indecisos e nús pela praia.
Contudo, o deus, magnífico, tempos depois, criaria dois olhos e arremessá-los-ia para a mesmíssima praia. Teria havido intenção? Tenho quase a certeza que não. Finalmente os olhos de imediato olhariam os pés e de repente se apaixonariam…
Então, o grande deus, embora já se enfastiasse ainda não se tinha tornado mau e daí vai que, tendo-se apercebido do que se passava na praia pegaria numa paleta de barro e desenharia uma macieira e nela colocaria uma enorme e suculenta maçã. Acabando adão entregar-lhe-ia os olhos que antes deitara para a praia e acabando eva entregar-lhe-ia os pés, belíssimos que havia tempo se encontravam na praia. Assim, adão entreter-se-ia com os pés de eva e nem olharia para a maçã. O paraíso seria para sempre paraíso e a maçã, acabaria por cair do quadro para o chão e madura, comê-la-iam os vermes, esses glutões.
Deus, admirando adão e eva no paraíso pediria aos seus súbditos que dali o remassem para fora e pegando num novo bocado de argila, teria desta feita mais cuidado e em vez de pés de mulher, durante um sono de adão, pensaria na história mais que badalada da costela.
nuno monteiro
À data, o grande deus viajava de barco e havia uma quantidade enorme de pequeninas gentes que o remavam!
O bocadito de barro, intrépido e volteante, acabou de ganhar forma pelos ares e quando caiu, aterrou nas areias de uma praia lindíssima. Dois pés de mulher, o grande deus fizera, quase sem querer e o vento depois moldara, dois belíssimos pés de mulher. Ainda não havia a mulher, ainda não havia a face, ainda não havia o colo, as pernas e muito menos os cabelos ou os olhos. Mas já lá salteavam, praia fora, os pés, o esquerdo e o direito, frondosos, saltitando por entre a preia mar, evitando os recifes.
E durante muito tempo, o deus, tendo-se enfastiado, não quis mais moldar e quase abandonaria a arte não fosse um ou dois traços de teimosia. E durante todo esse tempo os pés zombariam indecisos e nús pela praia.
Contudo, o deus, magnífico, tempos depois, criaria dois olhos e arremessá-los-ia para a mesmíssima praia. Teria havido intenção? Tenho quase a certeza que não. Finalmente os olhos de imediato olhariam os pés e de repente se apaixonariam…
Então, o grande deus, embora já se enfastiasse ainda não se tinha tornado mau e daí vai que, tendo-se apercebido do que se passava na praia pegaria numa paleta de barro e desenharia uma macieira e nela colocaria uma enorme e suculenta maçã. Acabando adão entregar-lhe-ia os olhos que antes deitara para a praia e acabando eva entregar-lhe-ia os pés, belíssimos que havia tempo se encontravam na praia. Assim, adão entreter-se-ia com os pés de eva e nem olharia para a maçã. O paraíso seria para sempre paraíso e a maçã, acabaria por cair do quadro para o chão e madura, comê-la-iam os vermes, esses glutões.
Deus, admirando adão e eva no paraíso pediria aos seus súbditos que dali o remassem para fora e pegando num novo bocado de argila, teria desta feita mais cuidado e em vez de pés de mulher, durante um sono de adão, pensaria na história mais que badalada da costela.
nuno monteiro