Anita é bonita de olhar, especialmente à noite, enquanto as estrelas zunem e ela se desatralaçava e esticava as mãos para o céu, como se as tocasse. Tocava-as, oh se as tocava porque ficava envolta numa claridade de alegria, era embarcar em Anita e era mágica a noite que, com Anita, olhávamos o céu. Então dizíamos sobre o mundo e sobre a idade adulta, então era tudo belo, sem frio ou pedras ou ainda poços, era tudo fácil e reluzente, como farei quando esquecer, já velho e só, as noites e os fins de tarde, na praia, com Anita. O modo como ela sorria e apartava areia entre os deditos, o modo como esticava as pernas até se quedar imóvel, entre a imensidão.
Certo dia, fim da tarde, chegou-se com a seguinte… che, porque não acreditas nos vivos! Eu fiquei embasbacado olhando-a… isso é mesmo teu Alice! Olha, estás a ver estas ondas de mar que te enrolam os pés… diz-lhes que cessem! Tenta. Não posso, o mundo perderia metade do gozo, não sabes que as pequenitas borbulhas de mar me massajam… És impossível, as ondas do mar por uma massagem aos pés? Uma massagem até eu ta fazia… não, o que eu queria dizer, é que a preia mar e a maré vaza, existem, tal como o caminho dos homens… então mas que tem isso a ver com os vivos? Pois, que mais queres que te diga, como acreditarei em vivos que se comportam como se a vida não fosse responsabilidade deles… Então Alice mete-se de pé à minha frente, flecte um pouco as pernas e hasteia o braço direito, como se empunhasse uma espada ou um florim… en garde! Não sou eu quem te desafia, é a minha espécie, profundamente zangada com a tua… depois rebolou na areia e por toda ela, ficaram coladas milhares de areias de quartzo que reluziam ao sol. Viajou até mim, mirabolante, a imagem de uma terra de mil e um pirilampos, uma auréola perfeita, doce algodão doce, os cabelos ruivos da pipi anunciando tanta coragem… não Che! Não acredites, eu não sou assim tão coragem. Mas ainda assim, vamos rasgar caminho e cheguemos a nado, ao farol. O mar é meu amigo e nada receies pois a uma palavra minha, não só faço parar a maré como a vazo até lá longe, à luz onde só bule, rodopiando, essa luz Alexandria, que se lê folha a folha…
Nuno Monteiro
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