Cinco e trinta da manhã dum dia que entrou torto, desirmanado, vinte e sete de Agosto, fim de férias, fim de estio. Ainda me cumpre fazer mais dois ou três dias de praia, talvez dois, tenho uma máquina fotográfica nova, um pequeno luxo, está pronta, vai comigo de viagem, servirá, também esta, para roubar pedacitos ao sol nascente e ao sol poente, porque, enfim, corro, tal qual Rulfo, atrás de quimeras, jardins de gentes, desertos diminuídos de cobardia…
Dentro em breve, iniciarei funções, cumprirei um ritual diário intransponível, inigualável e, por que não dizê-lo, rasgarei também aí, pedacitos. Pois que até aí vive literatura, até nesse desconcerto, pobre zócalo, que ainda habitas dentro de mim, confuso, comedido, tiranizado. Eu que não queria mas a minha vida, fora destas páginas, escritas em branco, neste papel sem eco, a minha vida, retomo, é tirana. Capital dum dos países mais estropiados da Europa. E por mim igualmente desconhecida. Talvez seja por aí, talvez haja demasiadas estradas secundárias e talvez, talvez os homens se entretenham a vaticinar demais, a escolher pompa, a igualar metas. Enquanto isso, outros homens, quiçá mais enternecedores, escrevem Comprarás o vestido e quando eu sair daqui, preparar-te-ás, casaremos. Não sei que espécie de novelo me leva a escrever sobre a Roménia (Tirana não é a capital da Roménia), não não é só sobre a Roménia que me apetece escrever, é também sobre Marrocos, sobre as pessoas empurradas contra o muro de rede da fronteira. Aí sim, aí se roubariam pedacitos de sol, preciosos pedacitos. E em Sonora? Não se canta lá o hino! Sonora não nega Rulfo, não desmente Bolano, pena que o editor Bubis já tenha morrido… pena que a ficção derrame tanto no sol, na vida, no farol.
Seis horas e dez minutos, afinal não será o dia, serei eu que me componho torto, mal não faz mal, e ao fim e ao cabo, fim de Agosto, paz ao calor bendito e levanta-se já um frio que me banha na bebida, no caminho. Impossível esconder ou esquecer… Santa Bárbara, canta o hino do Chile, dEUS meu, deixa o homem sair pois ele só quer casar…
Nuno Monteiro
Dentro em breve, iniciarei funções, cumprirei um ritual diário intransponível, inigualável e, por que não dizê-lo, rasgarei também aí, pedacitos. Pois que até aí vive literatura, até nesse desconcerto, pobre zócalo, que ainda habitas dentro de mim, confuso, comedido, tiranizado. Eu que não queria mas a minha vida, fora destas páginas, escritas em branco, neste papel sem eco, a minha vida, retomo, é tirana. Capital dum dos países mais estropiados da Europa. E por mim igualmente desconhecida. Talvez seja por aí, talvez haja demasiadas estradas secundárias e talvez, talvez os homens se entretenham a vaticinar demais, a escolher pompa, a igualar metas. Enquanto isso, outros homens, quiçá mais enternecedores, escrevem Comprarás o vestido e quando eu sair daqui, preparar-te-ás, casaremos. Não sei que espécie de novelo me leva a escrever sobre a Roménia (Tirana não é a capital da Roménia), não não é só sobre a Roménia que me apetece escrever, é também sobre Marrocos, sobre as pessoas empurradas contra o muro de rede da fronteira. Aí sim, aí se roubariam pedacitos de sol, preciosos pedacitos. E em Sonora? Não se canta lá o hino! Sonora não nega Rulfo, não desmente Bolano, pena que o editor Bubis já tenha morrido… pena que a ficção derrame tanto no sol, na vida, no farol.
Seis horas e dez minutos, afinal não será o dia, serei eu que me componho torto, mal não faz mal, e ao fim e ao cabo, fim de Agosto, paz ao calor bendito e levanta-se já um frio que me banha na bebida, no caminho. Impossível esconder ou esquecer… Santa Bárbara, canta o hino do Chile, dEUS meu, deixa o homem sair pois ele só quer casar…
Nuno Monteiro
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