Anita, impelida pelo papagaio, entregara-se a um mundo novo. Donde lhe viria esse fascínio de velejar um papagaio? O que procuraria Anita? Um sorriso! Sim o sorriso e a gargalhada. Quando o vento o fustigava Anita aquiescia e empobrecia, só, ao frio, mergulhada no vidro. Mas serenando o vento? E sorrindo o mundo! De certa forma o mundo não sorria. Anita é que, por vezes, encontrava o caminho e quando então, um esgar de riso ou até uma gargalhada… Anita não ria, mesmo quando o fazia, não o fazia, vivia cumulada de saudades, quando ventava, e o céu se tingia de um plúmbeo ameaçador, quando lhe ralhasse, Anita, entrando no veleiro, vogaria, mareava, buscava. Eterna luz presa por entre caracóis, singularmente caminhando, soprava o fogo e aproava a norte, para o topo, vá lá papagaio, tu que és forte, leva-me à minha mãe!
Da ilha, recordo uma janela, e uma moça, olhando os campos e ao fundo o mar, esse papagaio gigante, onde repousam os narvais e onde se mostram as auroras, fantasmas vestidos de luz, desertos secos e frios, o sorriso e o frenesi, enfim, Nemo e o imaginário, a menina que foste, que és ainda, entrelaçada, ainda que lacrimejando, ao bordão da vida.
Nuno Monteiro
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