segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A corda que escrevinha na areia

À quebra luz,
por cima dum lajedo,
rodeado por lobos…
havia um homem do lado de cá do mar
e outro no outro canto
um cinto invisível
de loucura, a brancura do cordão umbilical que os mantinha unidos…
O vento soprava louco por entre as estepes
miúdos passavam, sobravam, rolavam
eram pedras que tremelicavam de frio
por dentro deles sangrava um cume que a custo se distanciava…
Sentado na berma do mar, um dos homens chorava
Zombando, no outro canto, o outro homem segurava um polvo
maldito, escarninho que lhe tomava o braço todo…
Enchia o mar uma onda imensa de pânico, livros bafientos
um dos homens lia lendo e ensurdecia enlouquecia declamava!
o polvo sugava-lhe os dedos e em breve lhe roubaria o braço.
Pois bem! Deixá-lo ir!
As águas frias nunca mais veriam a sua amada…
À visão clara límpida sobranceira
Dum charco de luz,
saltava de dentro de um pote, um baú, uma ilha, uma melodia, uma guitarra, A mulher
que mantinha o louco louco e o sorriso sorrindo…

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

Prémio Histórico - Filosóficas