Quietude na casa da floresta. Caído parte do telhado, o velho, o dono, quedava sentado na poltrona olhando a pequenita eira de terra que havia defronte, antes das grandes árvores. A minha casa está em ruínas, e quando o dizia, repetidamente, fazia um esforço para segurar na caixa de ferramentas e por instantes, julgava ser um jovem todo poderoso. E contudo sabia ser velho e doente. A caixa de ferramentas permanecia imóvel. A poltrona onde ele se sentava e a casa, por detrás do alpendre, um pouco mais caída. Como um enorme tempo puído.
Caída a noite. O velho movia devagar para a cama, após uma frugal refeição. A vela apagada. Um luar inundava-lhe o quarto pois que lhe entrava pela janela. Zorro, o cão, velho como ele, deveriam ser duas da manhã, quis latir. Rouco, mal inundou a noite com três ou quatro ladrares. O velho que espreita para a pequenita eira de terra defronte. O luar que inundava e dava para ver uma mãe vestida de farrapos e um menino de colo. Parados. Bem no meio da eira.
Quem está lá! Então a muher aproxima-se e em dando com as escadas do alpendre, ajoelha bem no primeiro lanço de casa. E diz. Por favor! Albergue a mim e ao meu filho já que não há nada mais para nós no mundo. Mas o velho! Albergo! Pois albergo! Mas que a minha casa está em ruínas. É das minhas pernas e dos meus braços e desta maldita velhice. Já não sou ninguém… não se aflija que eu posso bem com qualquer trabalho de homem. E dito isto, Zorro, sossegando, deitou-se outra vez a dormir.
Como se chama o seu filho? Este não é meu filho, é apenas um bebé que eu tirei do rio, alguém passara na ponte e o atirara borda fora, digo eu, que não vi, mas o menino, o menino ali estava, encarquilhadinho e vermelho de raiva…
Nuno Monteiro
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