terça-feira, 26 de outubro de 2010

No canto da Escrevedeira


Houve uma princesa moura que cá viveu… as escrevedeiras são pássaros pequeninos que vivem muitos anos e são tão coscuvilheiras que conhecem todas estas histórias de princesas. Era assim que começava a composição da Lua. Uma princesa moura que cá viveu! E essa princesa era bonita? Ora se era, alguma vez ouviste falar dalguma princesa que não fosse bonita de morrer… bem, mas o facto é que por detrás de todos os lindos vestidos a princesa chorava. Oh! Então não era feliz! Mas, ó escrevedeira, como saberás tu que a princesa não era feliz… ora essa, defronte do quarto dela havia então uma nogueira tão grande onde eu pousava e ouvia-a, era um choro que quase se diria uma eterna declamação, ou um lamento baixinho, um sussurro como se falasses para o vento te levar as palavras. Isso, o vento era o carteiro da princesa, levava e trazia novas do namorado, mas, ó escrevedeira o que ouvias tu, que dizia essa princesa? Sempre que o vento soprava para sul, para as terras onde estaria o príncipe de quem ela gostaria, ela entreabia um pouco a janela e cantava

Belo príncipe por quem eu me apaixonei
E que eu não vejo por vontade de meu pai

Quando o vento soprava mais furioso e a nogueira rugia eu não conseguia ouvir a melodia, tinha( isso sim) que me agarrar melhor aos pequenitos galhos que pareciam terramotos…

Pudesse eu ter um cavalo destemido
Ou fossem meus os caminhos que trilhei

Porém houve logo quem perguntasse, ó escrevedeira, mas se essa moça era árabe, declamava em árabe e então tu, um simples pássaro, como a percebias? Ora essa, pois que no final de cada ventania e mesmo quando o sopro estava no auge, se ela deitava pela janela um cabelo preto longo que logo voava para perto do namorado, que crês tu que ela declamasse?
O Professor: Lua, parabéns, a tua composição está muito bonita!
A Lua: sim professor…
O Professor, outra vez: Como surgiu essa história?
Contou-ma a escrevedeira, ontem, à noitinha, depois do jantar, empoleirada no galho da Nogueira…

Nuno Monteiro

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“ A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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